quarta-feira, 15 de abril de 2009

Estrada - 05/04/2009


O asfalto fumegava, o dia estava deslumbrante... Estava eu de passageiro, após longa data, em um caminho rumo ao meu desconhecido. O paradeiro real era certo, os motivos que me conduziriam a este destino, mais certos ainda... Não havia nada de apoteótico... Que bom... A companhia era formidável... Queridos amigos... Aos poucos a vida vai se encarregando de nos afastar. Resistimos bravamente... Somos muito diferentes uns dos outros... Que bom... Tudo foi muito simbólico... Foi muito agradável e especial... Rimos muito, voltamos a infância muitas vezes... Quando digo rumo ao meu desconhecido, não sei se tem muito a ver com a natureza do palpável. A Estrada me faz pensar,me faz observar. Tudo na Estrada tem uma cor diferente, um sabor diferente, um cheiro diferente... Sem dúvida, um dos meus clichês prediletos.

Tento recorrer a Estrada quando me vejo perdido... Me refugio em seu tempo peculiar em suas formas sinuosas e em caminhos que nunca conhecerei... A Estrada me assusta, impõe respeito e ao mesmo tempo me encoraja, me seduz. Decisões importantes, arrisco a dizer que até mesmo definitivas... A Estrada me alerta... “Cuidado, talvez você não aguente o tranco”... Sempre preferi a dúvida a certeza, pago um preço muito alto por isso... Estou preocupado... Quase não durmo, minha saúde se comporta de forma duvidosa, ajuda a instaurar o caos emocional... Minha profissão, caminha para a extinção, ou como alguns preferem chamar, para uma transformação... Palavra capciosa, ambígua demais até para um ser ambíguo como eu... Estou quase sempre cercado de pessoas incríveis e mesmo assim, bebo minha solidão em goladas afoitas... Nunca produzi tanto, nunca estive tão feliz com minhas criações, nunca me levei tão a sério. Mesmo assim, nunca me senti tão estranho, tão só. Por vezes uma tristeza cortante, profunda... Passiva. Não sei, é como se fugisse de mim mesmo, por mais incoerente que isso possa soar...

A Estrada me fala muito sobre isso! Sobre abdicar, sobre fugir, fugir de que? De quem? Foi perdido em elucubrações e especulações, enquanto a chuva agredia o solo quente, notei que a Estrada nos levava de volta para a vida, para casa... A Estrada me levava de volta para mim!

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