Meu vício está
em um nível degradante e irreversível. Preciso de você inteira e por isso minto. Minto o tempo todo e você sabe. Quando
digo que será para sempre, que te amo como nunca amei ninguém, jamais havia
transado tanto. Minto de forma preguiçosa e sedutora. Você finge que acredita
só para ter o prazer de me tornar vilão, para encher a boca e dizer como quem
chupa uma manga em qualquer tarde pueril: MENTIROSO!!!
Você mente
também. Mente para si mesma, mente para mim, mente para o mundo. Odeia quando
me ataca da forma mais cruel e eu não compro a briga. Faço de propósito só para
te ver em frangalhos. Sua indiferença forjada me diverte nessa era em que não
se pode ser frágil. Rio muito do seu jogo intelectual me subjugando com
teóricos franceses, artistas russos e autoajuda de quinta categoria.
Invento
histórias sobre minha vida, sobre meus feitos e medos. Ao me fazer de
problemático estou desferindo o golpe de misericórdia, aguço teu instinto maternal.
Xeque-mate! Sem você perceber estamos na cama e se a dose de êxtase não for
satisfatória, falho como um adolescente diante da sua primeira amante: “relaxa,
a culpa é minha”. Você não acredita no que digo apesar da minha confissão
apaziguar seu subconsciente... Me acha patético, espalha para todo mundo que
sou broxa, talvez gay... Enquanto isso eu consigo com outras mentiras o que não
consegui com você.
Sinto-me em
paz por algumas horas...
Depois começo
tudo outra vez.
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