quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Junkie (30/01/2015)


Meu vício está em um nível degradante e irreversível. Preciso de você inteira e por isso  minto. Minto o tempo todo e você sabe. Quando digo que será para sempre, que te amo como nunca amei ninguém, jamais havia transado tanto. Minto de forma preguiçosa e sedutora. Você finge que acredita só para ter o prazer de me tornar vilão, para encher a boca e dizer como quem chupa uma manga em qualquer tarde pueril: MENTIROSO!!!

Você mente também. Mente para si mesma, mente para mim, mente para o mundo. Odeia quando me ataca da forma mais cruel e eu não compro a briga. Faço de propósito só para te ver em frangalhos. Sua indiferença forjada me diverte nessa era em que não se pode ser frágil. Rio muito do seu jogo intelectual me subjugando com teóricos franceses, artistas russos e autoajuda de quinta categoria.

Invento histórias sobre minha vida, sobre meus feitos e medos. Ao me fazer de problemático estou desferindo o golpe de misericórdia, aguço teu instinto maternal. Xeque-mate! Sem você perceber estamos na cama e se a dose de êxtase não for satisfatória, falho como um adolescente diante da sua primeira amante: “relaxa, a culpa é minha”. Você não acredita no que digo apesar da minha confissão apaziguar seu subconsciente... Me acha patético, espalha para todo mundo que sou broxa, talvez gay... Enquanto isso eu consigo com outras mentiras o que não consegui com você.

Sinto-me em paz por algumas horas...


Depois começo tudo outra vez.


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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Poema para um amor de sarjeta. (28/01/2015)


E eu só lhe queria assim, louca e febril. Despida de santidade, mostrando suas costas estreitas e acidentadas. Eu só lhe queria assim, doida de alguma droga desconhecida, algo que nos enchesse de medo e curiosidade. Fugir do palpável pela longa estrada de ferro abandonada em meio ao caos... Tropeçando em velhos dormentes, tomados pelo cansaço até finalmente nos percebermos fugindo de nós mesmos, rodando em círculos.

A todo vapor em rota de colisão com qualquer alegoria infantil, só lhe queria distante o suficiente para não me reconhecer em você. Voar as cegas como um volteador principiante em um profundo mergulho ao tarde demais... Louco e irresponsável... Vagabundo e imoral. Eu só lhe queria assim, nua, rabiscando as paredes da minha insensatez, demolindo os umbrais da minha arrogância.

Queria-lhe através da madrugada aos berros, acordando as pessoas de seus sonhos parcelados, de futuros batidos. Queria-lhe no banheiro da próxima estação. Queria-lhe inalcançável, vigiando-te doente detrás de qualquer balcão mal iluminado. Queria-lhe em meus olhos por horas ao som de Tom Waits... Queria-lhe dançando sem fim, namorando-se em qualquer espelho manchado pelo tempo... Rodando no sentido anti-horário do firmamento.

Aassim... Assim...

Assim.

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