sábado, 9 de março de 2013

Aqueles Dias – 09/03/13


Era tudo tão novo, tão misterioso... Éramos tão curiosos naqueles dias... Eram tão curiosos aqueles dias. Dias em que a chuva não molhava e os beijos eram intermináveis. Não havia espaço para razão, não entre nós. Eu reservava essa parte só para mim. Um refúgio que só um doente calculista poderia construir.

Os fins de tarde duravam minutos e você era tirada de mim pelo consciente coletivo, te arrancavam dos meus braços com mentiras, falsos moralismos e modismos. Eles testavam minha paciência como crianças testam adultos... A infância era louca e defasada. Já tinha ficado para trás em outros beijos, mas a mesma existência não lhe conferia bagagem. Não lhe oferecia nada.

Costumávamos morrer naqueles dias... Era calmo e quieto a oeste do desconhecido. Nada poderia nos deter naquele momento. Transformávamos tudo em ouro com palavras batidas. Transmutava minha decadência em algo de sentido, finalmente. Éramos de verdade naqueles dias... O que houve? Quando isso se perdeu? Qual eram as verdades daqueles dias?

Explorávamo-nos entre roupas naqueles dias, entre olhos curiosos e cheios de ódio do alheio. Levávamos o medo ao limite, desafiávamos o palpável sem olhar para trás. Nos irresponabilizávamos naqueles dias. Eu a namorava enquanto dormia como se não sonhasse, como se nunca mais fosse acordar. Fomos leais? Fizemos jus? Fomos felizes naqueles dias?

Os fins de tarde voltaram a ser longos e a escuridão voltou a esconder-me como antes. A chuva voltou a molhar e outros lábios voltaram a me insatisfazer. É uma ilusão pensar que simplesmente resgatei uma vida anterior àqueles dias.

O que sei é que aquele que conhecia como eu, alvejado por muitos, eterno vilão, morreu em algum lugar daqueles dias... Como um estranho, como um estrangeiro sem laços. As memórias aos poucos transformarão os fatos em ficção e o que sobrou de nós estará eternamente guardado naqueles dias...


Até não restar nada daqueles dias....



...

terça-feira, 5 de março de 2013

Uma Droga Chamada Amor - 05/03/13 - 4:11



Você sabe o que é o amor? Sabe mesmo? Acha complicado? Acha simples? Acha? Amor? Acha que é Hollywood? Acha que é Santa Cecília? O seu conceito de amar é composto de quantas receitas prontas? Quem te ensinou? Seus pais? A Bíblia? A escola? Acha que se resume a beijos e pernas entrelaçadas? Que se resume a corpos brancos e longilíneos? Que se trata de coerência? De respeito? De interesse? De longos vestidos e ternos alugados? Que se resume em alianças e contratos? Rebentos? Cartas e olhares, mãos e roupas íntimas? Bancos de trás?

Acha que é sobre sofrer? Trair? Acha que é sobre não ser correspondido? Sobre divórcio? Cegueira? Burrice? Brigas e ofensas? Acha que é um jogo? Um suspiro? Uma competição? Ciúmes? Acha que é sobre sentir ciúmes? Tem certeza que você pensa isso? Acha que é sobre ficar dias sem dormir? Acha que é quantidade? Que é qualidade? Quantos clichês compõem o amar? Pensa que é sobre lágrimas que borram? Rompem a realidade de um momento singular... Acha que é sobre corações disparados? Acha besteira? Acha que o amor é uma besteira? Acha que é para os jovens? Para os ratos? Acha que é sobre construir? Sobre matar? Sufocar?

Quantas doses de amor você aguenta? Acha que leva vantagem pela quantidade? Quanto dura o efeito? Quando precisará de mais? De outro, outra, outros? E quando a dose for diluída? E quando a música não lhe fizer mais dançar? Quando não sentir mais as asas? E Quando o tombo lhe arrancar sangue? Deixar-lhe violento ou sem chão? Vai aumentar a dose? Vai chorar? Vai implorar?

Não adianta você querer me curar... Desintoxicar... Não há salvação para aqueles que não querem se salvar. O vício lhe toma a alma antes do segundo ato... A viagem é longa e lenta, a sensação é de poder, pura ilusão. Os olhos pesam e quando percebe já está imerso em seu sonho mais selvagem.

Quando passa leva consigo tudo o que um dia você almejou ser, ter e sentir... Todos os lugares são vestígios daquilo que lhe queima como o fogo que fora esquecido por deuses maltrapilhos em alguma era decadente.

Qualquer outro toque será resquício daqueles dedos, daqueles lábios... Qualquer loucura será brincadeira de criança...
E quando estiver no escuro, em silêncio, escapara debilmente entre seus dentes como um sopro displicente o mais batido dos clichês:

“... te amo...”



...