sexta-feira, 10 de maio de 2013

Ego - 10/05/13 - 3:09


Não... Você não me conhece. Digo mais: Você não vai querer me conhecer... Sabe por quê? Simplesmente porque a competição não me atrai... Não quero competir com você... Não me importa se você bebe mais, se você fuma mais, se ama mais, se sente mais ciúmes, se fecha mais bares, se trepa mais... Pouco me importa se ganha mais ou se tem mais canudos do que eu... Até uma barata pode conseguir isso...

Pouco me importa suas frases roubadas de outros babacas que roubaram essas frases de algum outro imbecil que deve ter lido em alguma coletânea medíocre de algum jornal porco. Não sou inteligente, não sou instruído, não sou virtuose em porra nenhuma... Não tenho certeza de nada... E amo ser assim... Esse fascínio raso que nutre pela minha autodestruição passará em pouco tempo... E quando sentir falta de mim, não vai durar nada... Não acredito em receitas prontas... Não acredito na felicidade como um ideal... Não acredito no amor como uma tábua de salvação. Durante toda a vida já vi mais atrocidades em nome do “amor” do que em nome do dinheiro.

Não... Não gosto de trabalhar... Gosto de existir... De sair por aí, de olhar o mundo, de conversar com algumas pessoas, de contemplar a barbárie e me alimentar dela... Discordo da máxima que se fosse fácil não teria graça. Simplesmente porque é difícil para caralho (e olha que se for comparar com a de outras pessoas, minha vida é moleza) e não tem graça nenhuma... Não acho que uma pessoa que dá o sangue seja melhor do que uma que não faça nada... Odeio julgar... Mas vivo fazendo isso... Eu me odeio. E muito.
Pouco me importa a marca do seu carro, o bairro em que mora, a qualidade do seu cigarro ou sua autocomiseração. Estou quase sempre desarmado, de peito aberto... Comporto-me como um idiota na maioria das vezes e mesmo assim, é o lado que mais aprecio na minha pessoa.

Não... Você não me ama... Nossos jeitos não são compatíveis. Sou egoísta. Sou egocêntrico e não sei ser pela metade, apesar de me pegar sendo pela metade em boa parte das vezes... Estou longe do que chamam de perfeição... E isso me faz bem. Ser errado tem o seu glamour. O que é uma imensa merda. Mas acho uma bosta menor do que buscar a perfeição... Buscar ser melhor...

Não... Você não me conhece... E não está aqui para tentar me conhecer melhor... Está por pura curiosidade mórbida... E quer saber... Independentemente de ser verdade ou não, sou muito grato por isso... Porque além de um completo cretino, sou carente para caralho!

sábado, 9 de março de 2013

Aqueles Dias – 09/03/13


Era tudo tão novo, tão misterioso... Éramos tão curiosos naqueles dias... Eram tão curiosos aqueles dias. Dias em que a chuva não molhava e os beijos eram intermináveis. Não havia espaço para razão, não entre nós. Eu reservava essa parte só para mim. Um refúgio que só um doente calculista poderia construir.

Os fins de tarde duravam minutos e você era tirada de mim pelo consciente coletivo, te arrancavam dos meus braços com mentiras, falsos moralismos e modismos. Eles testavam minha paciência como crianças testam adultos... A infância era louca e defasada. Já tinha ficado para trás em outros beijos, mas a mesma existência não lhe conferia bagagem. Não lhe oferecia nada.

Costumávamos morrer naqueles dias... Era calmo e quieto a oeste do desconhecido. Nada poderia nos deter naquele momento. Transformávamos tudo em ouro com palavras batidas. Transmutava minha decadência em algo de sentido, finalmente. Éramos de verdade naqueles dias... O que houve? Quando isso se perdeu? Qual eram as verdades daqueles dias?

Explorávamo-nos entre roupas naqueles dias, entre olhos curiosos e cheios de ódio do alheio. Levávamos o medo ao limite, desafiávamos o palpável sem olhar para trás. Nos irresponabilizávamos naqueles dias. Eu a namorava enquanto dormia como se não sonhasse, como se nunca mais fosse acordar. Fomos leais? Fizemos jus? Fomos felizes naqueles dias?

Os fins de tarde voltaram a ser longos e a escuridão voltou a esconder-me como antes. A chuva voltou a molhar e outros lábios voltaram a me insatisfazer. É uma ilusão pensar que simplesmente resgatei uma vida anterior àqueles dias.

O que sei é que aquele que conhecia como eu, alvejado por muitos, eterno vilão, morreu em algum lugar daqueles dias... Como um estranho, como um estrangeiro sem laços. As memórias aos poucos transformarão os fatos em ficção e o que sobrou de nós estará eternamente guardado naqueles dias...


Até não restar nada daqueles dias....



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terça-feira, 5 de março de 2013

Uma Droga Chamada Amor - 05/03/13 - 4:11



Você sabe o que é o amor? Sabe mesmo? Acha complicado? Acha simples? Acha? Amor? Acha que é Hollywood? Acha que é Santa Cecília? O seu conceito de amar é composto de quantas receitas prontas? Quem te ensinou? Seus pais? A Bíblia? A escola? Acha que se resume a beijos e pernas entrelaçadas? Que se resume a corpos brancos e longilíneos? Que se trata de coerência? De respeito? De interesse? De longos vestidos e ternos alugados? Que se resume em alianças e contratos? Rebentos? Cartas e olhares, mãos e roupas íntimas? Bancos de trás?

Acha que é sobre sofrer? Trair? Acha que é sobre não ser correspondido? Sobre divórcio? Cegueira? Burrice? Brigas e ofensas? Acha que é um jogo? Um suspiro? Uma competição? Ciúmes? Acha que é sobre sentir ciúmes? Tem certeza que você pensa isso? Acha que é sobre ficar dias sem dormir? Acha que é quantidade? Que é qualidade? Quantos clichês compõem o amar? Pensa que é sobre lágrimas que borram? Rompem a realidade de um momento singular... Acha que é sobre corações disparados? Acha besteira? Acha que o amor é uma besteira? Acha que é para os jovens? Para os ratos? Acha que é sobre construir? Sobre matar? Sufocar?

Quantas doses de amor você aguenta? Acha que leva vantagem pela quantidade? Quanto dura o efeito? Quando precisará de mais? De outro, outra, outros? E quando a dose for diluída? E quando a música não lhe fizer mais dançar? Quando não sentir mais as asas? E Quando o tombo lhe arrancar sangue? Deixar-lhe violento ou sem chão? Vai aumentar a dose? Vai chorar? Vai implorar?

Não adianta você querer me curar... Desintoxicar... Não há salvação para aqueles que não querem se salvar. O vício lhe toma a alma antes do segundo ato... A viagem é longa e lenta, a sensação é de poder, pura ilusão. Os olhos pesam e quando percebe já está imerso em seu sonho mais selvagem.

Quando passa leva consigo tudo o que um dia você almejou ser, ter e sentir... Todos os lugares são vestígios daquilo que lhe queima como o fogo que fora esquecido por deuses maltrapilhos em alguma era decadente.

Qualquer outro toque será resquício daqueles dedos, daqueles lábios... Qualquer loucura será brincadeira de criança...
E quando estiver no escuro, em silêncio, escapara debilmente entre seus dentes como um sopro displicente o mais batido dos clichês:

“... te amo...”



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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Capítulo I – Surra 19/02/2013


Atacar por trás é covardia... E daí? Quem liga para isso? Ninguém às 4:48 da madrugada de terça-feira, quando se está cambaleando por um beco imundo e fedido portando uma garrafa de “Old Eight” vazia e melada. O golpe veio seco, nas costelas! O suficiente para me derrubar em cima de um monte de lixo... Bater em bêbado é uma covardia maior ainda do que atacar por trás... Mas quem liga para isso? Ninguém. Não quando você é um vagabundo, não esta noite. Depois do terceiro chute na cabeça tudo ficou mais confortável, parei de ouvir. Virou-me de barriga para cima com um chute nas costelas. Tentei ver o rosto do meu algoz, cerrei os olhos e cheguei à conclusão de que era um completo estranho.

Sorrateiramente deslizou sua mão para dentro de meu casaco e sacou minha carteira... Tratava-se de um amador. O cara fez uma puta lambança só por causa da carteira vazia de um bêbado? Não havia um centavo, apenas notas de bares e supermercados que denunciavam minhas práticas alcoólicas dos últimos meses. Acho que isso deixou nosso aspirante a larápio mais puto ainda, começou a fuçar em todos os bolsos me amaldiçoando no que deveriam ser palavrões e xingamentos homéricos, ainda bem que eu permanecia surdo e quase morto. Acredite, uma garrafa de uísque ruim faz certas dores parecerem carícias delicadas.

Por fim, nosso gênio concluiu que daquela pedra não sairia leite, nem uísque, nem nada. Desferiu duas pisadas em minha barriga me forçando a virar de lado. Abriu o zíper de sua calça e fez questão de mirar seu flácido membro no que restara de minha face. Mijou em abundância, literalmente me afogando naquela mixórdia de sangue, saliva, suor e amônia! Jogou minha carteira na poça de mijo perto do meu rosto, deu as costas e saiu meio correndo, meio andando... Amador demais.

Quando abri os olhos novamente já era dia... Demorou uma eternidade para eu conseguir mexer um dedo, outra para mexer o braço e assim por diante. Consegui ficar de quatro depois de uns vinte minutos creio eu. Criei coragem e em um súbito desvario atirei meu corpo contra a parede buscando apoio para me escorar... Fui literalmente escorrendo para cima até me colocar de pé. Só neste momento que minha cabeça fez questão de me lembrar do porre de “Old eight” (e olha que para demorar mais do que três segundos para sentir uma ressaca dessas requer estar muito fodido). Foi tiro e queda, a dor irrompeu, a náusea castigou e o vômito colaborou com minha volta ao solo... Vamos lá, tudo de novo.

Mais uns quinze minutos e lá estava eu de pé novamente... O corpo parecia atropelado por um trator, a cabeça parecia abrigar todos os ferrados pelas guerras desde a antiguidade, o espirito... Bem que espirito? Pé ante pé, fui rastejando para fora do beco no intuito de avistar meu saudoso e seguro “Friends n’ Chips” novamente... Missão cumprida e comprida. Lá fui eu porta adentro e os pedreiros e cobradores já encaravam comerciais e pf’s fedendo a sebo... Nesse instante que o Almeida esbravejou:

- Porra Carcamano, nem meio-dia direito ainda e você já me aparece por aqui todo fodido, fedendo a cú de defunto e com essa cara estropiada???!!! Vai se foder!!!
- Caralho Almeida, vê se não me enche as bolas e me vê um duplo, com bastante gelo! E que porra de comida é essa que fede mais do que eu?
- Cala boca seu veado, senta lá no canto do balcão que já te sirvo, vai comer algo?
- Só seu estivesse demente da cabeça!!!

Ao me sentar no banco pegado ao balcão, tirei um dos sapatos e resgatei de dentro da meia uma nota de dez. Eles podem me surrar e me emporcalhar o quanto quiserem, mas sempre haverá dinheiro para mais uma dose...

- Porra Carcamano, vê se te emenda caralho! Vai trabalhar, faz alguma coisa que preste dessa vida!!!
- Como o que? Limpar a latrina dessa espelunca aqui?
- Vai te foder seu merda! Bebe logo essa porra e vaza daqui antes que eu mesmo quebre mais a sua cara!
- Almeida, é o seguinte cara, quanto mais a vida continuar me surrando, mais eu vou continuar fodendo ela até chegarmos a um acordo, ou não!
- AHAHAHA!!! Você não passa de um bosta mesmo, some logo daqui, vê se dorme um pouco e se prepara porque a noite vai rolar um esquema lá no Vandré.
- Demorou... Ciao!!!


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domingo, 6 de janeiro de 2013

Não resta nada... (Daniel Codespoti 06/01/13)



Quando você menos espera, já foi! Está acordado em uma manhã qualquer com o quarto ainda escuro obrigando-se a agradecer por ainda ter um teto. Saber aquilo que o aguarda não ameniza a dor...

A cidade cai enquanto se arrasta em direção ao banheiro, o mundo te ilumina com as incertezas, com as barbáries. No espelho, um estranho tenta se aproximar faz 27 anos. A água agride as pálpebras, o cigarro exala do hálito e o álcool do suor. Quando se põe descente, pronto para enfrentar a vida, percebe que tudo já foi... Perdeu a estação e não se interessa em descer em mais nenhuma. Nada é realmente seu... Nada é eterno, em menos de trinta dias você pode desejar estar morto, estar longe, perder a memória. A luta perde o sentido. É como estar por anos em uma guerra na qual você não sabe nem como ou porque começou, não lembra sequer do motivo e nem vislumbra seu fim.

Te vendem carros, motos, seguros, cigarros, roupas, brincos, relógios, viagens, sonhos, realizações, família, sucesso, fama e autoestima por um preço muito alto... Querem seu sangue, sua alma e o que é pior, querem seu cérebro. Abdica-se de vidas para viver o devaneio do senso comum. Corrigindo, nem se chega a ter outra ideia de vida que não seja a do senso comum.

Por fim, muda-se o canal incessantemente ao longo de quinhentas opções que a TV a cabo lhe oferece. Come-se tudo e a fome continua ali, não há livro que conforte ou amor que preencha. Aliás, amor? É engraçado as pessoas falarem tanto em amor enquanto estão todos se matando no transito, nas famílias, nas escolas... Pegue qualquer relação de “amor” e manipule qualquer elemento, como por exemplo, o dinheiro. Brinque um pouco de Deus e perceberá que o que te vendem como amor, muitas vezes não passa de um pacote carência mais comodismo vendido a vista com um “puta” desconto.

Observar horas a paisagem não traz resposta alguma. Não oferece paz, compreensão, entendimento e muito menos alento. O vazio permanece, aumenta... Não resta nada, sugaram até a última gota do seu sangue, acabou a munição, acabou a água, a comida, a dignidade. Acabou o poder de persuasão, a força para argumentar, os dedos estão gastos de tanto desperdiçar escrita, a voz rouca, o olhar demenciado. Não sobrou nem sequer um esboço daquilo que um dia caminhou, comeu, amou, odiou, lutou, escreveu... Não restaram forças para matar... Muito menos para morrer.

Quando você menos espera, o dia já foi! Está acordado em uma madrugada qualquer testando todos os limites existentes para o corpo e espirito. Prever um possível futuro não ameniza a dor de talvez ter que vive-lo.

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