sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

CAPÍTULO I - Quando Tudo Parecia Calmo - 13/02/09


A esta altura já não me lembro mais o dia... Já não me lembro mais a hora... Sei que foi ano passado... A vida parecia estar voltando ao seu lugar, ou simplesmente saindo de vez. Recomecei a viver em agosto. Tinha uma profissão novamente, um objetivo, um sonho, novas pessoas para amar, para admirar e até mesmo para odiar. Novas experiências me empurraram de encontro a um grande amor do passado... A boemia. Cheguei quase a me esquecer o quanto eu amava a noite... Seus ruídos, suas luzes, suas sombras, suas leis... A umidade, os bares, as bebidas... Das mais baratas as mais caras... Finalmente me sentia em casa novamente, me sentia forte, auto-confiante, como nunca antes... Finalmente me sentia progredindo de alguma forma. A voz mais judiada pelo álcool e pelo cigarro, os dedos mais calejados, a mente muito mais aberta e o coração lacrado, interditado.

Por entre noitadas avassaladoras, porres homéricos e minha dose constante de solidão, me acertava novamente com o mundo virtual... Encarava o que muito discriminei de forma positiva, pacífica... Talvez hipocrisia, talvez teimosia, talvez lucidez... Também, já não me interessa mais saber... O que tenho certeza é que quando tudo parecia calmo, uma foto voltou a mudar minha vida. “Terríveis” experiências amorosas haviam me colocado em um quase eterno “Stand By”... Tinha a pretensão de ter aprendido algo, de estar esperto para as armadilhas do coração! Bom... Velhos hábitos nunca mudam... E realmente, lá estava eu novamente, encantado por uma estranha.

A foto por si só era belíssima... Apesar da baixa qualidade e do foco ligeiramente comprometido, podia ficar olhando para aquela imagem por eras inteiras (aliás, não só podia como fiquei). Uma menina linda... Uma beleza diferente, intrigante, irreverente... Mas até então era só uma foto... Teoricamente inofensiva... Afinal toda aquela beleza estava enjaulada naquele momento para sempre. Foi quando descobri que ia conhecer a “protagonista” daquela imagem... Fui tomado por um misto de curiosidade e medo... Afinal sei como sou... Realmente havia uma grande possibilidade de eu ter me apaixonado perdidamente por aquela pessoa, sem sequer conhecê-la.

O dia finalmente chegou... Eis que entra por uma porta de vidro uma presença assustadoramente forte... Ao vislumbra-la já comecei a me odiar... Desde aquele momento eu tinha a certeza de que estava perdido... Cumprimentamo nos. Enigmática... Não deixava transparecer se era timidez ou reticência... Linda, simplesmente linda... Com minha inseparável taça de vinho, comecei a observa-la de longe... Após horas sem contato, em um determinado momento, quando proferi uma de minhas bobagens... Veio o sorriso... Não podia acreditar no que meus olhos estavam vendo... Aquela belíssima face se iluminou de uma forma única... Nunca havia visto nada parecido... Um charme natural... Espontaneidade... Inocência e malícia dividiam de forma democrática aquela silhueta... Lá ia eu de novo... Voltei para aquela tábua rasa que é a paixão... Estava completamente tomado por toda aquela situação.

Outros encontros esporádicos e ocasionais acabaram por eliminar toda e qualquer dúvida que eu poderia ter a respeito deste envolvimento... Lugares paradisíacos... Conversas surpreendentes... Personalidade forte, muita delicadeza, suavidade e carinho, todas estas qualidades protegidas por irreverência e rispidez... Por mais que eu brigasse contra, não havia jeito... Sabia que já tinha sido enfeitiçado por tantos atributos, por tantos mistérios, pelo desafio, pela dificuldade! Conversamos por horas a fio, sua risada, mais do que cativante... Uma pessoa que te olha nos olhos... Que tem o olhar quente... O dia já estava despontando e permanecíamos acordados... O assunto não terminava. As mãos se tocaram quase que acidentalmente e não se soltaram mais... os olhos se cruzaram e o assunto não terminava... fiquei horas decorando cada pedaço daquele rosto... Cada expressão... Descobri padrões maravilhosos... A timidez, por vezes, levava sua expressão a me enlouquecer... Quanto mais conhecia, mais queria conhecer, quanto mais olhava, mais queria olhar, quanto mais tocava, mais queria tocar... Lá estava meu coração aberto novamente... Lá estava eu pronto para sofrer novamente. As mãos muito macias, o toque, profundamente delicado. Por algumas horas fui agraciado com o toque de seu rosto em meu ombro e sua voz sonolenta... Um fio de voz, meio sussurrada meio falada... Nunca me esquecerei daquele timbre, o cansaço deixou com que fosse tomada por uma candura que acabou de me arrebatar. Não havia mais contra o que lutar... Meu sentimento já era claro... Não podia dizer diretamente, ser sincero... Logo, tentei dar o recado através do tato... Temendo por minha ousadia e até mesmo falta de cavalheirismo, tomei uma de suas mãos e comecei acaricia-la... Acho que eu não precisava de mais nada... Poderia ficar daquele jeito para sempre... Pela primeira vez em 10 anos, me sentia puro e sincero. Estava amando de novo.


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3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Daniel, como você escreve bem ! Nunca li algo de uma pessoa, igual ao que você escreveu. Não sei explicar bem, mas realmente você se expressa bem com as palavras sabe? Simplesmente perfeito, impressionante como você consegui passar seus sentimentos aos outros com palavras.
    Realmente impressionante, Parabéns!

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  3. Muito obrigado... Sinta-se sempre convidado a ler minhas loucuras... A casa é mais sua do que minha!!!

    Bjos!!!

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